A conduta como base

O alpinista austríaco Heinrich Harrer tem uma missão: ganhar o cume do Nanga Parbat, o 9º pico mais alto do mundo, com 8125 m de altitude, situado na Cordilheira do Himalaia, no Paquistão. Contudo, partir para o desconhecido depende de um sacrifício: abandonar a esposa grávida em plenos primórdios da Segunda Guerra Mundial, em 1939.

O peso de pendurar mais um feito no mural de conquistas fala mais alto, e o arredio esportista passa por cima de todas as possíveis consequências de sua saída.

Já em território asiático, as primeiras tentativas de escalada do Nanga não dão resultado. Além de o clima não contribuir, o ego de Heinrich não soma aos seus companheiros de empreitada.

“Tibet, o teto do mundo. Parece que subimos numa fortaleza medieval de pedras, que se ergue sobre o centro da Ásia. Este é o país mais alto do mundo, e o mais isolado”.

A poucos passos do céu

É nessa avalanche de tratativas, desmandos e implicâncias, que a Guerra chega para ele e seu guia: são detidos e encarcerados pela polícia inglesa. Localizados no antigo império britânico da Índia, são declarados inimigos do governo inglês, pelo fato de a Áustria estar anexada à Alemanha nazista.

Após diversas tentativas frustradas de fuga, finalmente Heinrich deixa a prisão para trás com um grupo de companheiros fugitivos. No entanto, ele decide seguir caminho sozinho. É aí que o clima hostil e extremo do Himalaia dá as caras. Sobreviver não é apenas uma questão de persistência.

Em busca de terrenos tibetanos, o egoísta Heinrich atravessa desertos de sol, gelo e fome. Apesar da extremidade de sua jornada, pequenos povoados locais e nômades são avessos a estrangeiros e não aceitam sua presença. Por outro lado, através dos descaminhos, ele reencontra seu guia, e juntos prosseguem caminhos.

“Nesta terra distante para onde vim, se pode imaginar um lugar reservado, a salvo do mundo, escondido entre montanhas cobertas de neve”.

O oriente como espelho

Entre um pouso e outro, Heinrich dedica cartas a seu filho, na Europa, com o estranho mistério que pousa em sua mente: conhecê-lo. Ainda que tenha preferido o desprezo em detrimento da auto aventura gloriosa, os anos de prisão, fuga e desfeitas em solo asiático, pouco a pouco, vão abrindo caminho à dureza de seu coração.

A sucessão de desencontros e embates com os povos nativos é irrefreável. Uma nova condição de detenção também. É nessa rota de escolta policial que os dois amigos provocam uma nova correria em direção ao sossego.

Em um destes caminhos de suor e fúria, acometidos pela insistência da fome e do manjar em carnes de cavalo, que o inesperado virá: a cidade proibida de Lhasa.

“Vocês admiram o homem que quer subir na vida a qualquer preço, nós admiramos o homem que abandona seu ego”. (Dalai Lama)

O interior é a meta

A cidade é conhecida por ser o lar de Dalai Lama, o líder espiritual do Tibet. A diferença de civilizações, de cultura e convívio fazem os jovens aventureiros tropeçarem em si. O mérito da paz, do respeito e do auxílio são raízes neste novo pátio.

Desta forma, um improvável encontro entre as angústias do ocidente e a espiritualidade do oriente, remete a um novo mundo de possibilidades.

O reencarnado, defensor da fé, oceano do saber, dentre outros atributos que são dados ao líder espiritual do Tibet, fazem de sua jornada um tanto que responsável, pelos milhares de seguidores, quanto descontraída na medida que ele é apenas uma criança.

“Os seres tremem diante do perigo da morte. A vida é preciosa para todos. Ao perceber isso, o homem não mata nem causa a morte”. (Buda)

Um coração que pulsa

Neste terreno fértil de saberes e interiorização, Heinrich contorna suas fixações com novos temperos. É ali que ele baixa todas as suas guardas diante do jovem monge budista. O oriente torna-se espelho e através disso, ele enxerga muito além do quadro turbulento que moldava a sua vida.

Debaixo de palavras sensíveis e luminescentes de Buda, o arrependimento e a transformação de caráter são apenas o começo.

Nota: 3,5/5

Que tal relembrar roteiros junto comigo? Vamos nessa.