Quanto valem os sonhos?

Muidinga e o velho Tuahir respondem nas fabulosas páginas de ‘Terra sonâmbula’. Considerado um dos melhores livros africanos do século XX, seus escritos retratam o refúgio da guerra e da miséria, resultando tanto em viagens nos planos terrenos, quanto em peregrinações nas nuvens do fantasiar.

“Só as ondas se sucediam, em cada onda o mar se despindo sem nunca chegar à nudez. Eu estava preso naquele infinito”.

Homem e criança se encontram nos improvisos da fuga, e, nas dependências de um ônibus abandonado em meio aos rastros do nada, fazem sua morada. Ali, nas frestas do “machimbombo”, o menino encontra uma pilha de cadernos. É aí que se iniciam as expedições mais flutuantes da vida de Muidinga e Tuahir. Um, curioso e sonhador. Outro, experenciado e cascudo.

O conteúdo dos cadernos entremeia a luta dos dois pela sobrevivência, enquanto aguça suas vidas destemperadas e errantes com périplos encorajadores. Nas páginas de histórias encontradas no autobus, o menino lê e descortina as pluralidades do mundo, o velho ouve e satisfaz a própria fome do desconhecido.

“Não inventaram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de explodir os homens sem lhes matar. Uma pólvora que, em avessos serviços, gerasse mais vida. E do homem explodido nascessem os infinitos homens que lhes estão por dentro”.

Prosa poética encantadora e hipnotizante. Mia consegue unir o realismo com o mágico como poucos, singular mestre contador que é. Um mergulho na cultura moçambicana. Amores, fábulas, abandonos, fomes e sedes de vida. Natureza e aventuras sem fim.

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