Um chamado à consciência

Nas páginas de ‘Sejamos todos feministas’, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, a tradição patriarcal é socada à dureza-acalanto de uma pulsante voz negra-mulher-africana.

Espelhos: modos de usar

Palavras certeiras e desafiadoras são lançadas em uma viagem transatlântica. Navegantes letras, tremulantes bandeiras, recheadas de empoderamento e consciência de gênero. Firmes âncoras.

“A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura”.

Cá não está somente um chamado feminino às mulheres, tão somente – até daquelas que tratam do tema com desdém. Afinal, as batalhas e resistências de mulheres feministas é que garantiram liberdades fundamentais para o grupo. Ademais, a escrita de Adichie também é uma convocatória aos homens, desafiando-nos a quebrar contratos sociais que minimizam a mulher.

“Algumas pessoas dirão: ‘Bem, os homens, coitados, também sofreram’. E sofrem até hoje. Mas não é disso que estamos falando. Gênero e classe são coisas distintas. Um homem pobre ainda tem os privilégios de ser homem, mesmo que não tenha o privilégio da riqueza”.

Quanto ao feminismo? Diz aí, Chimamanda: “uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos”.

Nota: 5/5

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Mais além: importâncias

Em tempo:o experiente e referenciado professor de trekking e mountain biking paulista, Guilherme Cavallari, confirma e chama à reflexão: “o racismo é uma invenção humana que não tem reflexo no meio natural. Por que, em mais de quatro décadas dedicadas a esportes e atividades de aventura, convivi tão pouco com pessoas pretas?

Sou brasileiro, branco, de classe média e vivo num país de maioria absoluta preta e parda. Mas que bolha é essa, que fronteira invisível é essa, que afasta meus irmãos pretos, historicamente menos afortunados, do mundo onde vivo? Isso é racismo”.

A escritora e filósofa santista Djamila Ribeiro reforça para a conscientização da causa: “temos de acabar com o ‘eu não sabia’. Deve-se pesquisar historicamente o que colocou a população preta nessa situação de vulnerabilidade”.

Já o músico paulista Emicida declara: “o racismo norte-americano é que pauta o brasileiro. O horror daqui pode continuar acontecendo e está tudo bem. Estamos em terreno inimigo, temos que nos cuidar, como se esse não fosse nosso país. País assassino de pretos”.

Mais Além: historicidades

Em tempo 2: democracia racial = embalagem fajuta. Enquanto acharmos que racismo não é problema brasileiro, para mulheres e homens, seremos cúmplices de envenenados discursos falso moralistas.

No Brasil, último país ocidental a abolir a escravidão, as populações negras não foram incluídas na ideia de sociedade da época (1888). A política de embranquecimento através da substituição da mão de obra escrava, no reinado de Pedro II, ocasionou o financiamento nacional do imigrante em terras tropicais.

Dessa forma, os novos colonos ganharam, em muitos casos, terras para moradia e cultivo. Não obstante, a população preta sofre, ainda, o subjugo de sua espiritualidade. Religiões sobrepujadas pela cristandade opressiva, aquém ao culto às suas ancestralidades – de muito antes de Cristo, afinal.

Por base histórica e sobretudo humanista, uno minha voz à demanda feminista, antirracista e antifascista – esta última comumente atrelada, também, à superioridade branca -, tão legítimas e urgentes aos dias que correm.

Ágatha, Evaldo, João Pedro, Marielle, Miguel: presentes!