Todo homem é uma ilha

Mestre Saramago, o primeiro e único ganhador do Nobel de literatura em língua portuguesa até os dias atuais. Nestas páginas sensitivas e exploradoras de ‘O conto da ilha desconhecida’, o escritor português nos embarca em uma inusitada trama: do homem pedir, insistir, argumentar e finalmente ser concedido a tomar um barco do reino para ir de encontro à ilha desconhecida.

“Disparate, já não há ilhas desconhecidas. Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas? Estão todas nos mapas. Nos mapas só estão as ilhas conhecidas…”. 

Navegar é preciso, insistir é necessário

Instigada pelo misterioso rapaz que quer expedicionar os mares em busca do inexplorado, a empregada do rei toma a decisão de que deve partir junto a ele na odisseia. Ela liberta-se das paredes e serviços da moradia do reino para seguir o homem em suas sublimes aventuras.

“As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam. E isso mesmo se sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervo…”.

Não há limites para um coração pulsante

As intempéries começam logo à saída. O homem não encontra tripulantes entusiasmados à ideia, a mulher passa a não se conformar quanto à sua obsessão em atracar em terras intocadas.

“Mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver. Não o sabes? Se não sais de ti, não chegas a saber quem és”.

Entrar em saídas, desembarcar em inícios

Uma viagem para dentro e ao redor de si, afinal não sabemos o que esconde o outro lado do horizonte. Tampouco quem seremos ao destampar as suas cortinas.

Nunca é tarde demais para captarmos “que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós“.

Dono de uma vasta obra, este é apenas um conto e um ponto na trajetória deste amigo e confidente de nosso Jorge Amado.