A primeira fronteira

Dia 04 – O Uruguai me recebe com festa de águas. De antemão, devo dizer que saí com lágrimas nos olhos e o coração cabisbaixo da casa onde estreei estadia através do Couchsurfing (o tempo voou e a experiência fora imersiva). Por outro lado, feliz pelos aprendizados com o mega anfitrião Felipe. Por ter a oportunidade de seguir o roteiro bem tratado e ainda mais motivado.

A incrível sensação vertiginosa dos caminhos austrais

Ademais, joguei sorrisos e euforias por debaixo do capacete para o povo uruguaio, mesmo sob chuva forte. Ainda no Chuí, a cidade mais austral do Brasil, me desorientei quanto ao baixo número de brasileiros, pois é praticamente uma cidade uruguaia, obviamente com muitos argentinos também.

De fato, pois eu estava no Chuy uruguaio, cidade fronteiriça com a irmã brasileira, com ainda maior número de habitantes. Ali mesmo cambiei o primeiro dinheiro, adicionei o chip telefônico castelhano, adquiri o colete refletivo, obrigatório para motociclistas no Uruguai, e segui além das últimas terras brasileiras.

Passados os trâmites aduaneiros com êxito, recebido montoeiras de detalhados e úteis mapas do país, segui pela Ruta 9 até meu primeiro pouso em solo estrangeiro. Punta del Diablo, uma das primeiras praias após a linha fronteiriça. Também seria minha estreia em hostels.

Pizza saindo…

Uruguaios, argentinos de montes e até uma alemã, a Yas, intercambiando pela rusticidade do povoado. A alegria da Gimena, os conhecimentos futebolísticos do Cristian e as intenções itinerantes do Hernán, com sua banda metaleira. À noite, sem luzes elétricas pelas ruas de areia, as estrelas se exibiram para mim como nunca antes, um espetáculo à parte e vibrante. No tablado do hostel, compartimos música, pizzas caseiras e boas conversas, regadas ao salvador portunhol de minha parte.

Tentei reconhecer terreno em meio a tanta gente nova, idioma distinto e a distância nunca antes vista de minha casa. Rapidamente a Paola, psicóloga argentina e viajante, me colocou no barco das boas ondas. Gente pra cá e pra lá, mesclas de português com espanhol e um grande proveito quanto ao espírito acolhedor que tanto se fala dessa gente bueníssima. Agora provado e comprovado.

“Em Punta del Diablo, vendo a chuva no mar…”. (Vitor Ramil)

Outra despedida quente e pesarosa, pois de cara aprendi que o que fica são as trocas pessoais, as conversas, por mais miúdas que sejam. Os mates, as dicas, as inspirações viajeiras, a abertura ao desconhecido. Mais um avanço com a mochila esbanjando encantamento.

Na manhã seguinte, regressei caminho em direção ao famoso Parque Nacional de Santa Teresa, pois no percurso de vinda, a chuva não permitira uma visita.