As Cataratas

Dia 24 – Venci o Paraguai, de oeste a leste, em apenas um dia, recolhendo temperos solares em todo seu território e adicionando suas doses ao essencial alimento da alma. O sentimento ao chegar em Foz do Iguaçu foi nostálgico, pois terminariam ali meus giros aos países vizinhos do Brasil. O sonho não se encolheu, apenas tomou outra forma, embrulhada às nuances do regresso.

Chuvarada de brisas

Desembarquei no pátio do hostel já à noite. No amplo e bem cuidado quarto para muitos, passei duas diárias sozinho. Na manhã seguinte, com a moto livre de equipamentos, fui leve para as Cataratas. No Parque Nacional Iguaçu, patrimônio natural da humanidade, toda boa estrutura de recepção ao visitante, administrado pelo Instituto Chico Mendes.

Adquiri o pacote que cobre apenas o lado brasileiro, abrangindo cerca de 20% de atrações que a reserva oferece. O outro grande pedaço se encontra em dependências hermanas e existem outros tipos de pacotes para ingressar.

Passado o trecho interno de floresta, conduzido por veículo autorizado, desci, junto a visitantes do mundo inteiro, ao ponto inicial da trilha que liga às cataratas. Trilhas de concreto em meio à mata nativa conduzem até o ápice – as maiores das mais de 280 quedas d’água que a natureza oferece. Uma ducha constante, de se encharcar desde os primeiros passos.

Emendando apesares, quanto ao público constante e ininterrupto, o espetáculo é vasto e contempla a todos, mesmo aos esbarrões em meio às passarelas que dão acesso à Garganta do Diabo – um espetáculo à parte. Os feitos naturais oferecidos pela floresta e pelo Rio Iguaçu, considerados uma das sete maravilhas modernas da natureza, fazem jus às refererências. Dos sublimes momentos de imersão às estimadas águas paranaenses e argentinas, bati em retirada.

Pane seca, carona e um susto atrevido. E perigoso

No retorno ao hostel, logo na saída do parque, ganhei uma pane seca de presente. A Mochileira não possui marcador de combustível e minhas contas mentais fracassaram dessa vez. Carona de Kombi mais dois ônibus, entre ida e volta, para comprar gasolina no posto mais próximo.

No dia seguinte, na saída da cidade, encontrei a mecânica do Leonardo, também corredor de rua amador. Pedi para trocar o óleo, ajustar a corrente e limpar o filtro de ar. No entre papo em que ele me contava sobre as moto viagens solo de seu pai pela Patagônia, me perguntou se eu tinha dado baixa na minha estadia no Paraguai. Ora essa, não mesmo. Vacilo. Lá ia eu de volta à Ciudad del Este. Ponte da Amizade tomada de veículos, moto-taxistas enlouquecidos e muitos minutos até retornar ao Brasil com minha situação de permanência regularizada no país vizinho.

Devidamente a postos, era hora de deixar a turística Foz do Iguaçu. Já em direção ao próximo trecho de estrada, percorrendo uma sinuosa serra até à cidade de Francisco Beltrão, foi a vez do baú tomar a liberdade de se atirar da moto e testar suas forças contra o asfalto. Meu livramento é que estava subindo uma serra, e, além de mim, logo atrás, subia apenas um Uno, também devagar.

O motorista parou e me alcançou a peça. Redistribuí seu peso nos alforges e toquei adiante, sempre com receio de acontecer novamente, podendo ocasionar um incidente grave. Pensei muitas vezes em descartá-lo, mas com a diminuição do peso, o baú se comportou bem e resolvi deixá-lo fixado à moto. No mais, tudo correu bem e segui descendo as estradas do sul do Brasil. Atento às ventanias, contra-tempos e horizontes infinitos, de palmo a palmo, o destino se agrupava ininterrupto em minha paisagem.