Você já fez alguma coisa incrível?

Por dezesseis anos Walter trabalha na sala de negativos da “Life“, famosa revista de aventura. Comunicado: suas páginas não serão mais publicadas. Aliás, a revista terá uma última edição, e Walter recebe a tarefa de revelar a foto que será estampada na capa do derradeiro giro de publicações.

Um misterioso e destemido fotógrafo, correspondente internacional da marca, envia um pacote contendo o filme com a foto certa. Ocorre que, dentro das capturas disponíveis, a imagem escolhida por ele não está lá. Walter tem pouco tempo para trazê-la à tona. Na encomenda recebida, há também uma carteira, dentro dela um bilhete com os dizeres:

“Ver o mundo e os perigos que virão, ver por trás dos muros, chegar mais perto, encontrar o outro e sentir. Esse é o propósito da vida”. (Eis o lema da empresa).

Perfil incompleto

Dentre divagações e frequentes saídas de órbita, Walter vê na colega de trabalho uma chance de fugir do concreto da rotina e tornar a vida um pouco mais criativa e satisfatória. Mas ele não tem coragem de chamá-la para sair. O resultado é que ele descobre o perfil dela em um site de encontros. Uma cutucada? Sim, mas sem sucesso, o sistema não permite que ele tente o cortejo.

No encalço do serviço de suporte ao usuário, a constatação de que “seu perfil contém muitos espaços em branco, senhor. Você já fez alguma coisa incrível na sua vida?”.

Munido da odisséia de destravar a foto para a capa da última edição da revista, Walter une a disposição amorosa ao flerte aventureiro e resolve percorrer o mundo na busca do intrigante fotógrafo, para desvendar o mistério da imagem perdida e salvar sua pele com os mandatários da firma.

Na vida é preciso ter coragem e enfrentar o desconhecido

É hora de arrecadar memórias para a mochila. Junto a um recorte de papel contendo um quebra-cabeça com a localização exata do correspondente internacional, Walter parte para o desconhecido. Antes, a devida coragem de contatar a pretendente moça, e de imediato ser auxiliado por ela nas correrias dos últimos momentos da empresa.

Primeiro, um voo direto para a Groenlândia. Depois, uma carona em um helicóptero com um piloto pra lá de bêbado. O salto da aeronave até um barco. Chegando à Islândia, uma transcorrência de bicicleta, quase nada na bagagem, caronas, a natureza extrema com seus mares, rios, vulcões e animais selvagens.

Até aí tudo bem. Mas e o cara das fotos? Nada feito. Fotógrafo não encontrado. Retorno. Agora sim, os últimos códigos devidamente descompactados.

Pare de sonhar, comece a viver

Alguém disse Afeganistão? Por ali mesmo é que ele vai parar. Em uma travessia de ônibus por extensas estradas de terra, Walter chega até as bordas do baixo Himalaia. Próxima direção: acima. Buscando os cumes da rede montanhosa mais alta do planeta, finalmente encontra com seu aliado oculto. Silêncio, pois com suas lentes o cara mira o melhor quadro para capturar um tigre branco ao longe. Espera aí, não. O bicho vai embora e ele não saca a foto.

“Às vezes não tiro. Se gosto de um momento, se gosto pessoalmente, não quero ser distraído pela câmera. Só quero ficar nele. É, bem no meio. Bem aqui”.

Por fim, futebol com os nativos sob o pôr-do-sol da montanha. No voo de retorno, uma atualização no currículo da vida e um prestativo desuso para o aplicativo de relacionamentos (sim, ela acompanhou tudinho). A estampa da última edição da revista está lá, graças a Walter, vivaz como nenhuma outra. Atraente como sua mais nova vida além dos pátios do passado.

Nota: 3,5/5

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