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Baseado nas páginas homônimas do livro, a película Gabriel e a Montanha protagoniza a vida do carioca Gabriel Buchmann, um aventureiro e inconformado de primeira linha. Quem lhe empresta vida para o filme é o ator Pedro Zappa, algo que o faz com precisão.

Mochilar é preciso

Em 2008, o então economista decide sair para um mochilão minimalista ao redor do mundo. O anseio: aprofundar seus conhecimentos sobre políticas públicas em países em desenvolvimento para um futuro doutorado.

Após percorrer cerca de vinte países no Sudeste Asiático e Oriente Médio, Gabriel desembarca em terras africanas para os últimos trechos do giro mochileiro. Sempre dispondo-se a viver de forma não superficial, procura experiências imersivas e intensas com cada povo e sua cultura.

Por meio de cartas, se comunica com sua família no Brasil, ao melhor estilo Alexander Supertramp, enfatizando suas ganas pelo âmago do ser e do viver estradeiro, despojado das raízes daquilo que não é essencial.

“Andando há uma semana em cangas coloridas, carregando um cajado e uma espada de aço. Tô conseguindo pôr em prática a viagem que sempre idealizei. Vivendo de forma totalmente não turística, sustentável, gastando só 2, 3 dólares por dia. Transferindo 80% do meu orçamento para os africanos que me hospedam e me alimentam”.

O pico é só o começo

Prontificado para expedições de fôlegos apurados, Gabriel tem gosto pelas  montanhas. Na África, existem algumas boas doses dessas magníficas elevações rochosas. E não seria por menos, o cara estaria no topo daquelas que se propusesse a escalar, fizesse neve ou caísse o sol.

Em uma dessas, no Monte Mulanje, nas terras do Malawi, desobedecendo instruções bem apontadas pelos locais, ele decide que completaria seu percurso de ida e volta em apenas um dia. Feito inviável, dito por guias e outros montanhistas de plantão.

E quem disse que o Gabriel não tentaria? Afinal, pouco tempo antes, consagrou-se nas feituras de alcance ao cume do Kilimanjaro, na Tanzânia. Com quase 6 mil metros de altitude, é a maior elevação de toda África.

Gabriel insiste em sua ânsia e opta por escalar as bandas traiçoeiras do Mulanje apenas de sandálias, trajando poucas peças de roupa e suprimentos. Solitário e desprovido de guia, sucumbe às névoas do relevo.

“A beleza, a verdade estão por todas as partes. É só uma questão de reconhecer e optar por buscar a felicidade”.

Atores nativos, história de fato

Foram 3 meses de gravações para retratar com fidelidade o caminho trilhado por Gabriel pela África do Sul, Quênia, Zâmbia, Malawi e Tanzânia. No set de filmagem, quem deu as caras para atuar ao lado do Pedro Zappa foram os moradores locais. Gentes que cruzaram caminhos com Gabriel e que de alguma forma foram tocados por ele.

O protagonista desta fantástica história real, assim como o Alex, de ‘Na natureza selvagem’, não se entregou em nenhum momento para os modelos tradicionais de vida. Gabriel juntou todas as forças do seu ser e escolheu desempenhar as trajetórias do perdurável.

Polivalente e destemido, escreveu suas lições na memória dos mapas. Por fim, o poeta gaúcho Mário Quintana, tão espalhado por Gabriel em suas citações, já decretara: “Um instante de poesia, vale a eternidade”.

Nota: 5/5

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