Arena Condá, churros e canela

Dias 27, 28 e 29 – Cheguei à noite em um hotel de beira de estrada, na cidade de Francisco Beltrão, estado do Paraná. Como de passagem, ajustei o sono e na manhã seguinte fui-me embora para Chapecó. Tinha ideias de chegar a tempo de acompanhar o jogo da Chapecoense, válido pelo campeonato catarinense de futebol.

Moto espacial, pesadas águas

Na cidade de Marmeleiro, logo adiante de Francisco Beltrão, encontrei o Elcio e sua esposa, ambos munidos com uma Honda Goldwing 1999, com suspensão a ar, rádio, marcha à ré e outras especialidades. Gentis que só eles, convidaram-me para estadia em outras passagens por sua terra. Continuei trecho com ainda mais leveza no coração.

Abaixo de águas graúdas, segui para Chapecó. Cheguei na hora do jogo e fui direto para o estádio. Até encontrar estacionamento, sacar dinheiro, tirar a roupa de chuva e comprar ingresso, consegui entrar no jogo no final do primeiro tempo. No gramado encharcado da cancha, o placar já marcava um tento para a Chape a um tento para os caras do Hercílio Luz. De fato, o céu não pegava leve com o tapete verde da Arena Condá. No intervalo, tive tempo de deliciar um pastel e reservar pouso na cidade.

No decorrer do segundo tempo, indo e vindo da marquise de saída, para proteger-me da chuva, vi a trancos e barrancos o segundo gol da Chape. O marcador: Alan Ruschel, um dos sobreviventes do drama aéreo, ocorrido em novembro de 2016. Tragédia que marcou profundamente a história do futebol brasileiro e, especialmente, esta mediana cidade do oeste catarinense, que hoje respira futebol como poucas. Brilhante momento. É nessas horas que a gente agradece a estrada, a saída de casa, o salto ao desconhecido. O retorno é garantido, basta estar aberto às possibilidades.

Eternos campeões. Chimarrão com canela?

Na saída, um churros de chocolate, com desconto. Saboroso, apesar de resfriado. Espaço externo do estádio com homenagens às vítimas do incidente. Os campeões da Copa Sul-Americana de 2016 estão para sempre anotados na memória futebolística dos brasileiros e do mundo. Para mim, quase um segundo clube, quase um segundo escudo, inteiramente minha solidariedade.

No hotel/hostel do seu Alcides, grande recepção, regada a mate com canela (um ineditismo bastante agradável), pipoca amanteigada e lavanderia cedida para minhas roupas encharcadas de tempos úmidos.

No dia seguinte, curti as ruas vazias e nubladas da cidade, caminhei longamente sob um domingo pacato. Atualizei as pernas e me organizei para, na próxima tarde, chegar bem próximo da Serra Gaúcha. De passagem avulsa por Passo Fundo, já na terça, me dirigi para pertinho de minha casa. Pararia na cidade de Bento Gonçalves, terra da uva e do vinho, para uma última estadia antes de ancorar renovações na minha fixa residência.