Um gosto de final, porém de uvas

Dia 30 – De rápidas passagens por Passo Fundo, desci retorno para a Serra Gaúcha, para uma última parada antes de jogar âncoras em casa. Passei a derradeira noite de viagem na cidade vizinha de Caxias do Sul, Bento Gonçalves.

“Viver é melhor que sonhar” (Belchior)

Como todo bom serrano, hostel regado à uvas. À base de pernas, suco e bolachas de banana, saí em passeios noturnos com muita energia para devolver às ruas em minhas últimas caminhadas mochileiras. Bento é tão perto de Caxias, que chega a ser uma junção de morros e ladeiras. Coisas que exigem fôlego de um motor veicular, quem dirá de nossos pulmões. A cidade possui uma noite brilhosa e intensa, mesmo para uma terça-feira. Estilosos bares, praças e antigos trilhos de trem.

De madrugada, sozinho em meio aos salões da hospedaria, coloquei os fones e saboreei com intensidade minha lista musical. Feita exclusivamente para a viagem, minha companhia rítmica e poética proporcionou o tom de despedida que, de certa forma, talvez eu buscasse. Melodias para satisfazer a alma, refrões para desenganar o coração de um ‘até logo’. Uma espécie de coro contemplativo, comemorativo e nostálgico de tudo o que vivi e experimentei.

“Não deixo a vida me levar, quem leva a vida sou eu” (Lenine)

Por todas as providências físicas, mecânicas e de suprimentos que me foram oferecidas. De tantos e tantos trechos asfálticos, de pedra, de chão batido e de areia em que permaneci de pé, bem postado, são e motivado. Das pancadas molhadas oferecidas pelas infindáveis e multiformes nuvens, companhia constante. Dos sois implacáveis, remediais, gratuitos e vivificantes. Das incríveis pessoas e suas variadas nacionalidades que conheci em cada paragem, e que fazem dos circuitos solitários uma experiência ainda mais grandiosa. A essência do viajante.

Já era hora de guardar memórias no álbum da mochila e projetar novos anseios para colar as figuras do amanhã. No dia seguinte, mais uvas e água para o café da manhã antes de fazer o check-out definitivo. Desamarrei permanências e dei a partida, tanto na moto, quanto para a viagemTempo de desembarque: natalinas estadias, rememórias e retomada do cotidiano. O comodismo já se foi? Parar, sentar e refletir. Afinal, as melhores ações também eclodem no ócio.

Mais além: números finais

4 países: Uruguai, Argentina, Paraguai + sul do Brasil

5.435 km percorridos em 30 dias

Média diária de 188,16 km

Mais de 70 horas de pilotagem, mais de 60 km a pé

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